Procura

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Domingo, The Jordans e TV

O The Jordans é uma banda do começo dos anos 60. Influenciada pela explosão instrumental da surf music dos anos 50, sua indumentária, entretanto, mostra marcas explicitas da onda jovem dos sessenta. Surgiu num ambiente político em que televisionar o futebol era proibido. Desta forma, os domingos passavam a ser ocupados pelas bandas de jovens daquela época, que pipocavam cada vez mais. Algumas, notoriamente, tiveram mais visibilidade que outras, o The Jordans é um exemplo disto.A banda completou sua carreira até meados dos anos 70, quando encerrou suas atividades para retornar no início da década de 90, desta vez, seu público era o mesmo, só que um pouco mais amainado pelo peso da idade e do peso histórico das décadas que se passaram. Aquela cultura das festas, e da eterna celebração da juventude, a mesma que fez surgir tais bandas, não mais existia e, se existia, estava agora em outra geração.Ou então algo nos escapou no comportamento deles.



Ser jovem nos anos 60, participar do descobrimento da juventude que se deu nesta época significava encurtar a distancia entre o trabalho, a escola e o ócio. Significava ter uma música própria, para sua idade, um mercado, casas de dança, modos de se vestir, se portar, gestos e trejeitos que se aprendiam em grupos e que era notadamente reconhecido como diferente pelos pais e os mais velhos. "Veja um rapaz, o modo como anda e como se veste e logo saberá qual sua índole", tais eram as palavras dos mais velhos. Se o século XX inventou a juventude, os anos 60 e 70 esboçaram sua representatividade.

terça-feira, 27 de julho de 2010

But I want nothing this society's got - Going Underground

Para a maioria envelhecer é parar de brincar de ser rebelde. Para mim envelhecer é uma luta constante pela rebeldia eterna! Sempre penso nisso em momentos como este, depois de um longo dia de trabalho. Posso até ser uma ridícula, mas jamais serei uma normal.


segunda-feira, 26 de julho de 2010

domingo, 25 de julho de 2010

 "Nada existe que me dê qualquer prazer agora
  Já que ela está longe de mim"

"Conheci os Brazilian Bitles que estavam sendo lançados pela mesma companhia que se interessaria por mim, a Companhia Brasileira de Discos (CBD). Um dia o Eli Barra, o vocalista, me ligou e disse que ia ter naquele domingo um mingau dançante - como era chamada a matinê - só com bandas de garagem, no Little Club do Beco das Garrafas. Éramos menores e não podíamos entrar, só aos domingos. Chegávamos um pouco mais cedo da praia, não podia ter bebida alcóolica na festa, mas todas as bandas de rock'n'roll iam pra lá. O Eli estava no palco, eu no gargarejo, ele aponta e diz: 'Ronnie ensaiava com a gente... e canta muito bem'. Eu saí de perto com medo, me jogaram no palco e levaram a música de um filme que ainda ia chegar no Brasil, o 'Help'. Ninguém tinha ouvido nem falar de nada ainda! Cantei You've got to hide your love away e aplaudiram, fiquei contente."
                            
"Estava lá um caçador de talentos, esse executivo era o João Araújo que me disse: 'E aí, menino, vamos lançar um disco?'. Mas eu respondi: 'Você ficou louco, eu tô perdido, minha família me mata'. Aí ele foi falando os nomes dos meus familiares, ele os conhecia. João Araújo me convenceu que eu deveria gravar um lado em inglês e um em português, para avaliarem a partir dali. Acreditei piamente que o João ia fazer um disco pra ninguém ouvir. Até o dia, quando eu ainda dirigia uma organização financeira da família no Rio, na Rua da Quitanda, voltando pra casa de carro, ouvi o locutor da Rádio Tamoio dizer: 'Disco estrelinha - o disco que começa a brilhar'.

"Estava me ouvindo pela primeira vez. Parei o carro, fiquei deslumbrado, que coisa boa! Cheguei em casa e ninguém tinha ouvido, mas aquela tia velha e chata ouviu e queria reunir todos pra dizer que tinha um membro colocando o nome da família na lama, em ambiente promíscuo. 'Onde foi que nós erramos, criamos uma cobra pra nos picar, e agora, o que será?"
 "A má notícia é que não gosto desse disco, mas tenho respeito por ele. Resume-se ao compacto de meu bem. Foi gravado e lançado às pressas: era preciso um álbum porque o compacto tinha estourado de forma brutal. E eu queria era transformar a música pop em popular mesmo, dar a ela aquilo que George Martin conseguiu com os Beatles em Eleanor Rigby, algo como uma roupagem clássica e uma bateria comendo solta com a guitarra elétrica. Mas por essa produção ter sido muitocorrida, tenho antipatia pelo álbum.As pessoas não souberam arranjar, as músicas eram versões com textos absolutamente fora de propósito. Algo que não era a minha visão, exceto os quatro músicos tocando e eu e a versão de 'Girl'. Eu era niteroiense/carioca estourando em São Paulo e Minas. Tudo soava muito falso! Neste álbum tudo começou emocional e financeiramente pra mim. Historicamente, o disco deve ter algum contexto."


 

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Bem-vindos à máquina




"Eu vejo o mundo em termos muito fluidos, contraditórios, formativos, e com esse tipo de tortuosidade eu simplesmente não sinto a necessidade de dizer o que irá acontecer ou não." (Jerry Brown, governador da Califórnia, 1977)

"Cabeças de sucesso tomaram o governo" (Timothy Leary, 1979)

Em 1974, a filosofia cósmica se infiltrou no posto mais alto do estado mais populoso dos Estados Unidos. Jerry Brown, fez uma campanha discreta como um democrata convencional e, como a maioria dos democratas da época, ganhou facilmente graças à queda em desgraça de Nixon. Já no cargo, o governador desfraldou a sua bandeira freak. Para começar, ele se recusou a se mudar para a grande e opulenta mansão dos governadores, erigida pelos Reagan anteriormente para si mesmos, preferindo alugar um apartamento barato no centro de Sacramento. A mobília era mínima e a cama ficava no chão. Ele também recusou a habitual limusine com chofer, preferindo dirigir ele mesmo um velho Plymouth azul.A matéria de capa da revista People anunciava: "O governador hippie da Califórnia". Brown raramente fazia declarações políticas que pudessem ser compreendidas por aqueles que não tivessem conhecimentos filosóficos sobre a traiçoeira natureza da realidade. Jesuíta na juventude, ele desde então temperou a prática cristã altamente disciplinada, radical e antimaterialista com meditação zen e um interesse em filosofia taoísta. 
O governo de Brown foi uma mistura de ações radicais, liberais e conservadoras, e
embora suas imprevisibilidade garantisse a ele poucos amigos entre várias facções políticas, o povo da Califórnia continuou feliz com sua liderança por um bom tempo. Críticos o chamaram de "governador de símbolos". Uma das imagens mais poderosas (e provavelmente vazias) que o governo Brown transmitiu a todo o país foi a integração da 
contracultura de esquerda à América tradicional. O ex-organizador de testes de ácido Stewart Brand se tornou um de seus conselheiros prediletos. Ele indicou o herói beat Gary Snyder como presidente do Conselho de Artes da Califórnia. Tom Hayden trabalhou como "diretor de pesquisas" de brown, concentrado principalmente em desenvolvimento tecnológico (uma área em que brown realmente atuou). Por um período os dois foram tão inseparáveis que os jornalistas passaram a chamar a dupla de "Tom e Jerry". Até mesmo o rei doácido Ken Kesey aceitou um convite para fazer uma palestra para membros do governo. Brown finalmente provocou reações quando indicou "Hanói" Jane Fonda para o Conselho de Artes. Ela foi violentamente rejeitada pelo senado estadual, provocando grande polêmica e constrangimento. E grupos de todo o país o denunciaram depois que ele concedeu asilo ao líder do Movimento Índio Americano, Dennis Banks, contra sua extradição para dakota do Sul para cumprir pena por acusações de motim e agressão.
Os quadros contra-culturais de Brown eram basicamente relegados a funções políticas desimportantes na administração, enquanto a legislação séria era frequentemente conduzida pelo chefe de gabinete de brown, Gray Davis, que costumava ser chamado de "o adulto" pelos meios de comunicação da califórnia. Ainda assim, a mensagem de Brown, que em essência era "bem-vindos a máquina", encontrou eco no mundo jovem, recebendo uma resposta mista de otimismo curioso e cinismo. Brown era praticamente único em todo um grupo político classificado de "turma democrata de 74". Jovens liberais democratas de cabelos longos, veteranos das tendencias mais moderadas dos movimentos pacifistas e pelos direitos civis, assumiram posições de comando - entre eles os senadores dos estados unidos Gary Hart e Paul Tsongas. 
Em Arkansas, durante um período, um brilhante e agressivo jovem liberal chamado Bill Clinton tinha sido eleito governador. O retorno, porém, dos filhos e filhas pródigos para uma dialética amigável com a máquina foi completado com a eleição de Jimmy Carter em 76. Carter era um democrata moderado e seu gabinete era dominado por nomes do establishment e democratas moderados. Sua política econômica - como aconteceu com qualquer presidente dos estado Unidos no final do século XX era determinada basicamente pelos interesses das corporações poderosas, e sua política externa era conduzida por um estrategista imperial convicto, Brzezinski. Mas sua jovem equipe de conselheiros, chamada Máfia da Geórgia, estava um 
                   pouco do lado dos jovens, e logo após o governo Nixon,
o bando de Carter parecia um desfile de santos do Salão Oval. Carter foi o primeiro presidente a incorporar o rock'n'roll ao seu gestalt. Ele citava bob dylan muito frequentemente, sua campanha foi bancada por pelo menos um executivo de empresa fonográfica do sul, e os Allman Brothers se apresentavam em prol de Carter durante as primárias democratas. Hoje isso parece banal, mas o rock ainda tinha um cunho fortemente contraculural, pelo menos nos estados unidos e o fato de que tanto carter quanto brown pegaram bandas do ramo cowboy cocaína da cultura fora-da-lei não deixou de divertir observadores atentos e excitar fanáticos da conspiração das drogas. Carter também buscou e conseguiu o apoio de hunter thompson, famoso por seus brilhantes discursos alimentados a drogas contra a ersatz cultura americana e Richard Nixon. Finalmente, ele defendia a descriminalização da maconha, o que em gande parte selou o acordo.

No final dos anos 70, fontes alardearam revelações de que havia um uso intenso de drogas, especialmente cocaína e maconha, entre os jovens membros da equipe do governo Carter. Felizmente para eles, o conservadorismo, com o fanatismo contra as drogas que o acompanha ainda era anêmico. No conjunto, os americanos ainda estavam superando watergate e a derrota na guerra do vietnã. Chocados demais com a queda da casa de nixon, praticamente todos, inclusive conservadores, tinham até mesmo dado um sorriso tolerante ao filho chapado de jerry ford. Assim, a festa na casa branca não chegou nem perto do escândalo que teria sido hoje. (e as pessoas ainda não tinham se dado conta de quão perigosa é a cocaína).
Contudo, a impressão geral de que os democratas apoiavam o hedonismo jovem ainda assombra o discurso politico hegemonico dos americanos. A promessa de transformação dos filhos do baby boom modernos alcançando postos no sistema foi em grande parte permanentemente frustrada com a volta ao poder do conquistador da direita, Ronald reagan, em 1980.  
(Ken Goffman, 2004, com adaptações)